quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sobre a afasia...

Em um momento tão estressante, frustrante e pesado como é a elaboração de um trabalho final de faculdade (principalmente pra quem não acredita em faculdade), uma janela se abre no meio do escuro.




Escapo por uma pequena fresta e me reencontro com a vida.




Numa fração de tempo do meu tamanho, não tenho direito de perder a oportunidade. É questão de vida. Higiene mental.
Saio sem fazer barulho. O dia começa a nascer.




Encontro com amigos desconhecidos. Eles também parecem fazer o mesmo, cada um escapando das suas senzalas antes que seus feitores dêem falta. A humanidade dorme, acho que para esquecer que ela existe.




Subo a pé do litoral até as montanhas, passando em meio à floresta por caminhos tortuosos e desconhecidos. O vento canta nos ouvidos e dificulta a caminhada.




A chuva chega e torna o frio ainda mais forte. As roupas se encharcam e as gotas vão roubando o calor do corpo. A luz vai embora e paramos para conviver com os medos dos barulhos de uma noite chuvosa.




Atravessamos o dia, mas depois dele é a noite quem passa. A velocidade é a dela.
A escuridão bloqueia o sentido da visão e por isso ficamos mais introspectivos. Mais auditivos, mais cuidadosos.
















O não-domínio do espaço nos força à fragilidade. Às vezes dá impressão que o dia nunca mais vai nascer.
Nos primeiros momentos o escuro nos sufoca. Mas não demora, fazemos amizade com ele, reunidos ao redor das panelas.







Em meio às ruínas do que um dia foi o pino principal do Brasil econômico, a vida selvagem cresce.






Pequenos animais aparecem, curiosos com os barulhos ou com os cheiros. Torcemos para que não atraiam os grandes. O território é deles.








Na bonita dança dos climas, pudemos presenciar um dia bonito nascendo. É hora de colocar as coisas para secar.




É nessa hora que vem o indescritível sentimento de se considerar um dos poucos humanos que têm contato com as coisas mais puras e simples do mundo.




É boa a sensação de encontrar situações para as quais não existem palavras. É isso que eu procuro. E tenho encontrado.





Que segredo existe na noite? Alguém percebe quais milagres há no sol?




Será que alguém, depois de adulto, já viu a beleza que tem no céu? Viu? Sentiu a luta entre o vermelho denso e nervoso que trazemos dentro de nós e o azul poderoso e leve que há no céu?




Respirou uma paisagem, tentando fazer o interior dos pulmões enxergar a amplidão exterior? 




Penso que não. Se os homens tivessem olhos, jamais fariam casas. Elas são uma ofensa ao mundo. O vermelho que enxergam é o do semáforo. Estátuas ocupadas com seus rendimentos. Estátuas não sentem frio, só planejam sua permanência, sem propósito.




Bate a certeza de que nenhuma carreira profissional substitui esses momentos. Satisfação é saber que valeu a pena.






Veja a primeira travessia da Funicular: http://efgoyaz.blogspot.com/2009/08/sobre-barbarie.html
Mais fotos: http://picasaweb.google.com/efgoyaz/SerraDoMar#

5 comentários:

  1. Muito tocante e bonito teu texto.

    Eu já acho indiscritível a sensação de "chegar com os próprios pés", caminhando de um lugar ao outro em meio a natureza ou áreas rurais. Fico imaginando que deve ser uma experiência ainda mais intensa esse tipo de 'caminhadas' que você faz.

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  2. A afasia é du k....

    sensacional seu texto
    Abraços hermano

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  3. Grande Gláucio !
    TFg despertando poesia, Arquitetar é escrever com tijolos.
    Sempre te admirei.
    Tenho certeza que vai dar certo. Força na butina !
    Entrega logo esse trem e parte para a próxima viagem !
    "Tamu" junto!
    Se cuida !

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  4. Olá Glauco,

    Estamos fundando uma ONG para preservação das quedas d'água do Triângulo, OP QUATI e gostaria que você conhecesse nossos projetos e participação da nossa ONG. Poderei te enviar o estatuto via e-mail. Gde abraço.

    Visite meu blog que tem algumas informações: novaotica.blogspot.com

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