terça-feira, 9 de agosto de 2011

Sobre o repúdio à mordaça...

Diário de Araguari, 05/ago/2011
Curtas (pág. 2)



Saia Justa
Uma comitiva de vereadores que foi a Brasília voltou chateada com um fato que presenciaram. Durante visita, na quarta-feira, eles foram ao MEC - Ministério da Educação -, que tem um dispositivo que permite localizar, via satélite, áreas ideais para a construção de creches com recursos federais [Google Earth]. Durante as buscas, foram mostradas várias fotos postadas pelo fotógrafo araguarino que assina seus trabalhos como Glaucio Henrique Chaves e que estariam prejudicando em muito a imagem de Araguari por todo país. [será que são as minhas fotografias ou é o descaso das autoridades e de quase toda a imprensa é que prejudicam a cidade?]
Saia Justa II
O fotógrafo seria responsável pela maioria das fotos do município postadas no programa de satélite do Google, de grande acesso mundial [porque se fosse só em Araguari até hoje nem tinham visto. Precisou de alguém de longe avisar]. O fotógrafo teria registrado imagens de 2005 [querem delicadamente jogar a culpa na gestão anterior, mas tem fotos desde 1998 até hoje] e, no satélite, podem ser acessadas através de janelas, cujas fotografias ele legendou com extrema crítica [afinal crítica nos outros é refresco, né], não escapando sequer uma carroça de entulho flagrada em lotes abandonados. [será que falam dessa mínima carrocinha de lixo num terreno vago? Um lixão de grandes proporções perto do viaduto de Amanhece? 


Ou dessa carrocinha que virou vários e vários quarteirões cobertos de lixo no bairro Brasília? 


É tanto lixo espalhado ao redor da cidade que não sei qual carrocinha eles se referem. Se as fotos estiverem duvidosas, basta ir lá e verificar, existe um mapinha em cada uma delas]

Constrangido com os vereadores, o operador do sistema sugeriu que alguma medida fosse tomada para retirar as legendas pejorativas em relação à cidade de Araguari. [Legendas pejorativas? E quanto ao lixo pejorativo? E quanto às autoridades pejorativas? Afinal quais atitudes tomar numa cidade pejorativa?]

Estrago
Para os vereadores, grandes empresários de toda parte do país usam essa ferramenta para identificar áreas em cidades onde existe o interesse de investir [de certo são empresários só de internet, não analisam vários indicadores e tudo mais, pesquisam só pelo Google] e, neste caso, Araguari, certamente, pode ter sofrido perda de oportunidades de negócios, por causa da atitude do fotógrafo. [será que algum empresário vai querer investir numa cidade que não se cuida? Que fotógrafo maldito é esse? Será que ele mostra uma cidade irreal?] Certamente, o fato é desagradável, mas não se pode ignorar que a cidade precisa mesmo de cuidar melhor de sua imagem. [imagem??? Os caras continuam falando de imagem????]. O diálogo com o fotógrafo deve ser aberto, de imediato. [Quem sabe a gente “convence” ele a desistir de esfregar a realidade que ninguém quer ver?]

Repúdio
Consta ainda que na próxima terça-feira, quando acontecerá nova sessão da Câmara [que se reúne apenas uma vez por semana], os vereadores já preparam uma "Moção de Repúdio" [podia muito ser verdade] contra o fotógrafo, pois consideram que ele pode não ter noção [o sem-noção agora sou eu] do que representam os seus atos. Que tal convidar o rapaz para ser ouvido na casa de leis? O diálogo pode resolver.


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Meu repúdio:
Todo jornal deveria tratar a liberdade como algo sagrado. Deveria repudiar, sem demoras, qualquer tipo de censura. Basta pensar que nenhuma censura é saudável, nem inteligente. Censura e interesse público são opostos. Em Araguari, pelo visto, segundo o jornal Diário de Araguari, as minhas fotografias incomodam muito. Deixaram os nobilíssimos vereadores em “saia justa”. Mas o que os vereadores talvez se esquecem, é que as minhas fotografias somente retratam a realidade. Boa ou ruim. Elas são um espelho, que pode ser bonito ou feio, conforme o caso. Quem tem medo da realidade? A quem interessaria esconder as vergonhas da antiga Brejo Alegre? Se a realidade é motivo de vergonha, a melhor atitude a tomar é trabalhar. Se há lixo sendo jogado irregularmente todos os dias por toda parte (incluindo por órgãos da própria prefeitura que eu já fotografei), então sugiro que TRABALHEM. Mas quando falo trabalhar, não me refiro a repudiar o que lhes dá náuseas. Me refiro à tomar todas as medidas para que esse lixo seja depositado nos lugares corretos para isso. Se Araguari, uma cidade de 110 mil habitantes, se sente envergonhada com fotografias de árvores sendo cortadas pela prefeitura sem as devidas autorizações e sem a menor necessidade...



...deveria era sentir vergonha por ter deixado isso acontecer. Deveria sentir vergonha da reforma estar ocorrendo sem nenhum projeto. A cidade deveria sentir vergonha pelo fato de que quase todo o seu esgoto doméstico ser lançado na natureza SEM NENHUM TRATAMENTO. Que vergonha. Em breve será a maior cidade de Minas que não tem tratamento de esgoto. E a vergonha não é de quem divulga isso, muito pelo contrário.
Se as minhas fotografias, depois de tanto tempo, provocaram um puxão de orelha das nossas autoridades LÁ EM BRASÍLIA, então fico tremendamente feliz. É pra isso que elas servem: alertar. Bem que todas as nossas autoridades deveriam fazer o mesmo que eu: ter coragem. Mas eu entendo que é muito complicado. Bem que os jornais deveriam estar do meu lado, mostrando tudo o que encontram, sem medo de perder suas preciosas fontes de recursos. Se as minhas fotos mostram uma residência TOMBADA sendo demolida...




...sinto muito, mas a culpa não é minha. Guardo orgulhosamente os jornais que insistiam em defender a demolição, como se destruir casas antigas fosse uma via de desenvolvimento. Esse detalhe esconde um fato interessante: os maus jornais tendem a ser simpáticos aos interesses das gentes poderosas e não à realidade. Não são jornalistas, são negociantes. Se as fotos mostram uma cidade que já foi tão bonita ser deglutida pelas autoridades e com a aprovação de boa parte da sua população, então paciência. Escolas tradicionais que viraram estacionamento...


...bonitas estações de trem em vias de desabamento


Que vergonha. Se elas mostram lugares bonitos que foram cobertos pela construção de uma usina hidrelétrica particular e que teve maciço apoio cego dos vereadores, do prefeito, das entidades de classe que hoje se arrependem porque o estrago não chega nem perto dos ganhos, então pelo menos aprendam com o passado.



. Se as minhas fotos mostram ruas de pedra sendo cobertas com milhões de reais de dinheiro público para causar problemas ao invés de resolvê-los, só indicam que ainda não temos senso crítico por aqui...


Trilhos sendo invadidos ou arrancados, pátio ferroviário sendo destruído, etc. 



Se as pessoas me repudiam ou se me enaltecem, não faz a menor diferença. A diferença entre mim e eles é justo essa: meus objetivos não se encerram a cada eleição. Mas infelizmente, o quadro que vai se firmando em Araguari é de extremíssima vergonha. Particularmente acho que nunca passamos por um período tão obscuro. Parece que quando os maus governantes se instalam, a imprensa marrom viceja. Durante o asfaltamento das ruas de pedra, ao invés de louvar o belíssimo ato de um protesto pacífico de quem entendeu que o asfalto seria feito sem ampla discussão e estacionou seus carros para dificultar a destruição, no mesmo sentimento do chinês que lutou contra tanques na Praça da Paz Celestial (obviamente numa escala menor, claro), quase toda a imprensa de Araguari foi massivamente contra os protestos. É nessas frestas que ela mostra sua verdadeira cara. Da mesma forma, quando cortavam as árvores da praça Manoel Bonito sem ter as autorizações necessárias, ao invés da imprensa (salvo raras e honrosas exceções) PELO MENOS investigar, seguiu dois caminhos: ficou muda (que é o pior) ou então vociferou contra as raras pessoas que tentaram fazer com que a lei fosse cumprida. Lei é lei e pronto, não se pode transigir. Sinto muita vergonha (alheia) com esses maus profissionais. E são tantos. Eles não se dão conta que suas “pérolas” serão analisadas pelo tempo. Eu as coleciono. Seus nomes caem no ridículo e são uma vergonha para toda a cidade e principalmente para os bons profissionais, que via de regra, se mudam para outras plagas em busca de um ambiente saudável para seu ofício. Virou uma seleção anti-natural. Para os maus, a pior vergonha é aquela que eles passam e nem percebem. Aqui também entram os que preferem ficar calados. Repito que acho que são os piores, não importando o motivo do silêncio deles.


Quanto aos vereadores editarem uma nota de repúdio contra mim, se isso for verdade (afinal as notícias dos meios oficiais não são lá muito confiáveis) torço com todas as forças para que seja mesmo e bem que podiam “convidar o rapaz para ser ouvido na casa de leis”. Se tiverem coragem, terei muito orgulho e será mais uma das histórias que contarei para os meus netos. Não publiquei essa nota antes justo por isso: não queria influenciar a atitude deles. Será que vão editar uma moção de repúdio para o William Bonner, jornalista da Globo, toda vez em que ousar a falar da triste realidade de nossa cidade? E será que já editaram uma moção de aplauso para cada vez que a prefeitura gastou centenas de milhares de reais para anunciar que está pintando os meios-fios do “ninho de amor”?


Mas o que eu me divirto de verdade é que as minhas fotos mostram 80% de coisas bonitas do meu município e de qualquer parte do Brasil que eu já passei. Basta procurar e ver. Não vou nem deixar o link, procure no Google por imagens com o meu nome. Dois ou três anos atrás, nos meus tempos de faculdade, juntamente com outros dois amigos, rodamos o Triângulo Mineiro expondo as fotografias sobre as belezas de Araguari e região. Sem nenhum apoio de vereador ou prefeito ou quem quer que seja. Levávamos as fotos por gosto, de moto mesmo, nunca cobramos nada. Perguntem em Estrela do Sul. Uberaba. Sacramento. Uberlândia. Nova Ponte. Nenhum de nós é filiado a nenhum partido político ou coisa assim. As fotos sempre foram muito elogiadas, foram notícia nos jornais locais e até entraram em um documentário que estava sendo feito em Desemboque, município de Sacramento. Ainda guardo orgulhoso o livro de assinaturas. Em Araguari, a exposição ficou em vários lugares, dentre eles no Palácio dos Ferroviários e em lugares como a Escola Estadual José Carneiro da Cunha, no Bairro São Sebastião.



Basta ir lá e perguntar se gostaram, se cobramos alguma coisa, se contou créditos em alguma faculdade. Sempre fomos tratados com muito carinho. Nosso objetivo era outro e foi plenamente alcançado: as pessoas se deslumbrarem com as imagens, valorizarem a cidade delas e elas próprias fazerem suas imagens também. Portanto, depois de tanto falatório que vejo por aí, dou risada porque quem está passando vergonha não sou eu. Tanto é assim que QUATRO dias antes dessa nota do Diário ser publicada, meu nome foi expressamente citado no MESMO JORNAL entre dois dos maiores fotógrafos que essa terra jamais viu: Geraldo Vieira e Anton Gebhardt, por conta de uma exposição fotográfica que comemora os 123 anos de Araguari.



Apesar do meu extremo orgulho pela frase, entre esses dois maiores vultos e mim é evidente que existe uma constelação de fotógrafos araguarinos. Se meu nome figurar nesta lista, estará entre os últimos da fila. Mas dentre os primeiros, há muitos que são reconhecidos MUNDIALMENTE. Só o são na terra natal depois que já se cansaram de homenagens em outras terras. Poderia citar vários casos assim. E por isso também vai o meu repúdio à imprensa araguarina, de modo geral. Será que os ilustres radialistas falam disso nos seus fecundos programas? Eu nem sou araguarino, não ganho nenhum centavo para falar bem ou mal, mas amo essa terra muito mais do que boa parte dos araguarinos. Aliás, isso parece até uma praxe: talvez seja mais fácil encontrar estrangeiros que cantam as belezas de Araguari do que os nativos. Aqui também vai o meu repúdio à todos os araguarinos que deixam de valorizar sua terra natal. Araguari (ainda) tem muitos motivos para merecer seu carinho.


Talvez o padroeiro da cidade ser o Bom Jesus da Cana Verde, que foi humilhado e injustiçado, seja proposital. Também talvez seja proposital que o distinto Fórum leve o nome do advogado que usou de todos os recursos para a condenação dos inocentes Irmãos Naves. Para estes, que tiveram a vida dizimada por conta de um crime que jamais cometeram, uma homenagem lhes foi reservada: o presídio levou, asquerosamente por muitos anos, o nome dos irmãos inocentes que foram injustiçados. Até o Palácio dos Ferroviários, antiga estação de trem que colocou a cidade no mapa, abriga aqueles que fazem questão de destruí-la. Mesmo a Câmara dos Vereadores não foge à regra: funciona numa residência que foi doada à municipalidade em troca do perdão de recursos supostamente desviados, numa história que nunca ficou suficientemente esclarecida. E agora os jornais vêm a público exigir censura.

Portanto, por tudo isso, à Rádio Onda Viva AM (cuja Revista Mais FM, ligada a um determinado vereador conforme o próprio sítio na internet, também publicou fotografias minhas sem a devida autorização e ainda omitindo a minha autoria) faculto que me peça desculpas por ter divulgado em vários dias a notícia sem procurar me ouvir ou verificar as informações. Se eles acham as fotografias tão repudiantes hoje, por que então se apropriaram delas tempos atrás? A Onda Viva AM pode ler a presente nota completa no ar ou aguardar mais um processo judicial.


Também faculto ao Diário de Araguari, que também já fez o mesmo, que divulgue a presente nota completa ou aguarde um processo judicial a esse respeito.  Também exigirei o meu legítimo direito de resposta por não terem ao menos me ouvido, como parece mesmo ser a praxe de tais meios de comunicação.

Igualmente, se a Câmara dos Vereadores de Araguari tratarem da tal Moção de Repúdio a que o jornal se refere e não me pedirem desculpas por terem provavelmente sido ludibriados por suas próprias fontes estranhas e nem ao menos terem me procurado ou investigado, também serão alvo de processos judiciais.

Gostaria muito de contar a história completa do motivo do referido jornal Diário de Araguari ter publicado essa nota “esclarecedora”. Mas, ao contrário do mesmo, ainda estou em fase de coleta de provas para poder contar essa história sem incorrer em injustiça. Fica a dica para o(s) jornal(is) e para demais profissionais da imprensa: a ética ensina que deve-se ouvir todos os lados da notícia antes de publicá-la. Senão é mera fofoca e não tem valor algum.


Se alguém que estiver lendo essa notícia achou tudo isso muito repugnante, convoco a uma ação: para provocar os jornais de Araguari a serem mais competentes, sugiro que cancele a assinatura dos veículos de baixa qualidade e evitem comprar ou anunciar em tais jornais, porque seu dinheiro estará financiando a injustiça. Não injustiça contra mim, mas uma injustiça para com a qualidade, uma injustiça para com qualquer pessoa que ousa a ficar no caminho dos poderosos. Uma injustiça para com a notícia verdadeira. O jornal não vai quebrar, só vai deixar de receber O SEU dinheiro. O quadro precisa mudar e depende dessa atitude. Não seja hipócrita ao aceitar o argumento de que assim deixará de saber das notícias. A internet desempenha um papel muito mais honesto, mais limpo e independente. Existem bons blogs e sites por aí. Tanto é que as minhas fotos jamais seriam publicadas se dependessem da imprensa local. E vocês nem estariam lendo essa nota. Sem contar que a assinatura de um serviço de internet é bem mais barata do que a de um jornal. Quanto às rádios, faz muitos anos que não as ouço devido à péssima qualidade para os meus padrões. Acho que existem coisas muito mais interessantes e teatros muito mais honestos por aí. Meu aplauso à imprensa de outras cidades, essa sim mostra um quadro que julgo mais real.


Se você gosta de fotografar, fotografe. Mostre o que você vê. Coisas boas ou ruins. O que te indigna e o que te orgulha. No meu caso, repito que não ganho dinheiro com as minhas fotografias. Minha câmera é uma digitalzinha que não custa nem cem reais. Faça o mesmo: fotografe sem medo. Se estiver num ambiente público, como ruas e praças, você é livre para fotografar e publicar tudo o que quiser. Divulgue. Não se intimide com governos desastrosos. Eles passarão. Independente do que as suas fotos mostram, a vergonha não é sua. Talvez seria vergonha para os meios de comunicação, principalmente se você fizer referência direta à eles, do tipo: “a imprensa de Araguari não mostra, mas eu mostro.” Ou então: “a vergonha dessa foto é de todos que deixaram a chegar a esse ponto.” Ou então, simplesmente coloque “nota de repúdio”. Se você tiver algum interesse, entre em contato. Quem sabe podemos organizar um fotografaço em favor de Araguari? Alguém aceita?
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Em tempo, atualizando as notícias, depois disso tudo foi organizado um fotografaço (um passeio fotográfico) aqui em Araguari, que aconteceu no dia 15 de agosto (feriado regional). Foi um sucesso e a repercussão foi muito boa. Agradecemos a todos que ajudaram e que participaram. Convidamos a todos para os próximos passeios. As fotos farão parte de uma exposição e também serão postadas no Google Earth.


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 REPERCUSSÃO : - Clique aqui e acesse a lista completa e atualizada das ações e da repercussão:

Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=yNHdgF0SYkM

Textos: http://aculpaedofotografo.wordpress.com/2011/08/28/lista-das-repercussoes/






09/08/2011 - Centro de Mídia Independente - SOBRE O REPÚDIO À MORDAÇA - http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2011/08/495356.shtml

11/08/2011 - Poucas e Boas - VERGONHA? QUEM SENTE VERGONHA SOU EU! - http://poucaseboasari.blogspot.com/2011/08/vergonha-quem-sente-vergonha-sou-eu.html


12/08/2011 - Dignow - VEREADORES DE ARAGUARI MOBILIZAM-SE CONTRA FOTÓGRAFO - http://www.dignow.org/post/vereadores-de-araguari-mobilizam-se-contra-fot%C3%B3grafo-2686948-38247.html


12/08/2011 - Resumo Fotográfico.com - VEREADORES DE ARAGUARI MOBILIZAM-SE CONTRA FOTÓGRAFO - http://www.resumofotografico.com/2011/08/vereadores-contra-fotografo.html


13/08/2011 - Observatório de Araguari - FOTOGRAFAÇO - http://observatoriodearaguari.blogspot.com/2011/08/fotografaco.html


15/08/2011 - Blog Saúde na Tela - FOTOGRAFAÇO REÚNE AMIGOS E REGISTRA ARAGUARI - http://saudenatela.blogspot.com/2011/08/cidadaos-fotografam-araguari.html


17/08/2011 - Observatório de Araguari - RESULTADO DO FOTOGRAFAÇO - http://observatoriodearaguari.blogspot.com/2011/08/resultado-do-fotografaco.html


17/08/2011 - Diário de Araguari - CURTAS pág. 2
"AMEAÇA?: Indignado com as informações desta CURTAS sobre fotos da cidade disponibilizadas na internet, o fotógrafo araguarino Gláucio Henrique Chaves ameaçou, na grande rede social, processar o jornal pela divulgação das informações repassadas pelos vereadores da cidade. Não temos o menor receio quanto a isso, pois apenas divulgamos o que os vereadores afirmaram, os quais têm credibilidade para isso.

AMEAÇA? II :  ninguém está imune a críticas. Se o fotografo tem o direito de filmar o que lhe interessa, também [terá  que suportar as críticas de quem nao gosta de seu trabalho. As fotos foram vistas pelos vereadores em Bsb e eles tem amplo direito de criticar. aliás, este diário tem divulgado muita coisa que os vereadores nao gostam, mas nem por isso fazem ameaças.os leitores é q vao avaliar os fatos, como permite a liberdade de expressão, tao falada e exigida por todos"


17/08/2011 - Coluna Lêda Pinho do Jornal Gazeta do Triângulo, pág. 10 - ADESÃO - 
"Foi grande o número de pessoas a aderir o – digamos  - movimento de apoio ao jovem Gláucio Henrique, por conta do entrevero entre ele e vereadores, na capital federal.
Aquela história dos registros fotográficos mostrando lixos depositados em locais inadequados e otras cositas màs, aí pela cidade sorriso.
As fotos não mentem jamais e o protagonista – Gláucio -  não tem outra intenção a não ser de ver sua terra em melhores condições de limpeza, desenvolvimento e progresso."
http://www.gazetadotriangulo.com.br/novo/index.php?option=com_content&view=category&layout=blog&id=30&Itemid=293



20/08/2011 - Editorial do jornal Gazeta do Triângulo, pág.2 - A "CULPA" NÃO PODE SER APENAS DO FOTÓGRAFO -  http://www.gazetadotriangulo.com.br/novo/index.php?option=com_content&amp%3Bview=article&amp%3Bid=16702%3Aa-culpa-nao-pode-ser-apenas-do-fotografo&amp%3Bcatid=24%3Aartigos&amp%3BItemid=312


20/08/2011 - Crônica do Meu Interior - GLÁUCIO, A IMAGEM QUE FICA - http://palavrasemendadas.blogspot.com/2011/08/glaucio-imagem-que-fica.html


22/08/2011 - Observatório de Araguari - A CULPA É DO FOTÓGRAFO - http://observatoriodearaguari.blogspot.com/2011/08/culpa-e-do-fotografo.html

23/08/2011 - Poucas e Boas - FOTOGRAFAÇO - A CULPA É DO FOTÓGRAFO - http://poucaseboasari.blogspot.com/2011/08/fotografaco-culpa-e-do-fotografo.html

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sobre o paroxismo...


De longe avisto a igrejinha branca, desconhecida.
No alto do morro, assentada sobre o pasto seco, amarelo e quebradiço do mês de julho.
O vento do inverno espalha a poeira vermelha de tempos em tempos.
Sol forte, ar seco. Vida que peleja.



Acima, a preponderância sublime do céu azul que só existe no cerrado.
Penso que essa força mágica que vem dele arrebata qualquer um que o vê.
Penso que isso explica boa parte da religiosidade das pessoas das regiões centrais do Brasil.
Vou caminhando até tocar a pequenina e desolada capela de telhas de barro.



O vento brinca com as duas folhas de madeira da porta. Dentro, não há mais nada, nem bancos, nem vestígios, nem nada. No altar, improvisado numa mesa de concreto, não há nenhum santo. Desconheço o orago.
Mas dentro encontro uma sombra abençoada. O vento sobre as telhas faz um som que se escuta com o coração. Uma atmosfera que acalma.



Dizem que os seres humanos são os únicos animais que sabem que vão morrer. Não sei se são mesmo, mas desconfio que são os únicos que passam a vida procurando motivos pra viver.
E assim, qualquer átomo que entra na capela faz uma prece, sem saber. Sem palavras, sem pedidos, sem intenções, sem religiões, imagens, fé ou precedentes. A prece mais pura acontece silenciosamente. Involuntariamente. Ela escapa sem se dar conta.
E a mais simples capelinha que existe, abandonada e esquecida, é o lugar mais elevado de todo o universo.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Sobre a panóplia...


Já vai amanhecer. Deixamos nosso abrigo depressa. Subimos, subimos e subimos mais ainda. Depressa. A luz já começa a tomar conta de tudo, muito rápido. Ao redor, só avistamos florestas e neblina. Ofegantes, sentamos para apreciar o nascer do sol e, hipnotizados com o impacto daquela cena, nem percebemos que a função de raciocínio foi desligada. Quanta gente usa drogas, sua dose diária de soma, em busca de sensações assim. Jamais vão encontrar. Passam a vida inteira comprando falsidade, porque as sensações a que me refiro não são sensações de processo interno.



Conforme os dedos da luz inundavam o mundo, um perfume chegou e nos trouxe ensinamentos, mensagens que pareciam velhas e eternas. O clima é de respeito. Lições da suave autoridade da vida. O perfume, cheiro de madeira, terra e água. Notícias de uma vida que está lá antes de Cabral e de Jesus. Antes de qualquer índio, onça ou ipê. Só por isso já valeu a viagem.


É um coração que pulsa de fora, é uma vida que não vem de dentro. Aliás, quando o raciocínio foi desligado, o perfume mostrou que vida nenhuma pode vir de dentro. E que o aprendizado puro não se utiliza das palavras como transporte. Palavras são armadilhas humanas que se enchem de vazio. Derivam de idéias completas de vazio, por nascerem de uma existência interna. E se é interno, é morto, porque agora aprendi que a vida vem é de fora. É bom estar em contato com essas intensidades primordiais.



E a existência humana, cujo objetivo é fechar, reduzir, significar, pasteurizar, permanece com sua natureza digestiva. E, por isso, mergulhada e calcada somente em dentes e vazios.
E quando o Homem se dá conta disso, tenta lutar, se libertar, mas é impossível. O Homem é fechado em si, por definição própria. Nas suas tentativas, agora são os vazios é que se encherão de palavras e ganhará um diploma por isso. Quando alguém escreve, pensa ou fala de alguma coisa, não devia, porque não faz idéia do que propõe.



E agora o sol já rompeu o horizonte, o dia já começa a esquentar. Daqui enxergo minhas ilusões, num belo panorama. Respiro fundo, mas temos que descer, mergulhar na floresta e retomar o nosso caminho, que será muito longo. Prevemos que, se caminharmos bem, é possível que nas primeiras horas da noite estaremos ingressando no território dos neons, a terra onde a existência só é competição.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sobre as antíteses...

(continuação do post anterior, Sobre o Argos... )
O dia nasceu. Acho que de tanto eu rezar pra que saísse um sol que aliviasse o peso das coisas molhadas na mochila, veio um dia bonito, surpreendente. Nasceu um sol de rachar nesse primeiro dia de 2009, que em nada me lembrou a noite anterior. Acordo bem descansado, não sei quanto tempo eu dormi, não foi muito mas me foi suficiente. O rio está calmo, mas muito barrento. Aproveito e desfaço rápido a barraca, porque o sol vem com tudo. Calço os meus coturnos, mas não foi nenhum sacrifício, dáva pra andar, apesar dos pés esfolados. O cheiro do mato molhado me anima.



Coloco a mochila nas costas e volto em direção à ferrovia, única estrada ali por perto. Sei que não  posso andar demais porque meus pés continuam machucados, mas já estão bem melhores.
A floresta agora em nada se parece com a angústia de ontem e assim consigo atravessá-la e alcanço os trilhos facilmente. Como essa ferrovia foi construída nos tempos das maria-fumaças, calculo que a próxima estação não poderia estar tão longe. Elas eram separadas umas das outras por 12km em média, porque essas locomotivas a vapor tinham que reabastecer seus tanques de água constantemente. Em trecho de serra então, essa distância seria bem menor. Julgo que a próxima estação tem grandes chances de estar mais perto do que aquela que eu passei ontem.



E assim faço: achei melhor não pegar os trilhos voltando e sim indo em direção à estação seguinte. O sol foi subindo, jogando sua força. O calor que já emana do lastro ferroviário começa a sufocar. E a ferrovia agora está fugindo do rio, subindo cada vez mais para reconquistar o planalto. E sobe muito forte. Vou contando as plaquinhas de quilômetro e a cada três eu paro para trocar as coisas molhadas de lugar para que sequem e fiquem leves. E é claro, aproveito pra descansar. Mas logo resolvo reduzir as pausas para dois quilômetros. A caminhada já está rendendo menos.



Os quilômetros vão se passando cada vez mais devagar. Conforme eu gasto minhas forças subindo, as árvores e sombras gostosas vão ficando pra trás, no vale verde do rio ao mesmo tempo que o sol fica mais forte. A ferrovia agora entra num terreno plano onde a agricultura arrancou quase toda a vida, transformou tudo em soja. Uma paisagem bonita e triste. Verde. Muda. Quente. Térrea. O vento ventando quente. Nem vejo sinal de nada no horizonte. Nenhuma antena que pudesse indicar cidade por perto. Muito menos a estação. E o pior, nem algum sinal que indicasse existência de água.



Calor. Muito, muito calor. Eu suporto o frio, a fome e até a sede por muito tempo. Mas o calor me extenua rapidamente. Me arrependo por ter pedido que o dia amanhecesse quente para secar minhas coisas pesadas. E tenho agora muita vontade de que chovesse. Não me importaria que a mochila ficasse ainda mais pesada com a chuva. Nem que sentisse frio. Pelo menos a água refrigeraria meu corpo. Engraçado como a vida é frágil, e pra ela existir precisa de um monte de requisitos bem específicos, todos na medida exata. Será quanto tempo eu poderia ainda andar naquela paisagem monótona de soja e trilhos?
Aparece uma árvore. Grande, mas de folhas ralas. Até a sombra é quente. Jogo a mochila no chão, tiro a camiseta e bebo o pouco de água que ainda tinha. A água estava muito quente. Deve ser meio-dia, talvez mais. A parada não me refrescou em nada.



Continuo caminhando e apareceu agora uma estrada de fazenda que cruza os trilhos e vai embora. Prefiro continuar pela ferrovia. Olho pra cima e vejo o sol. Bem que poderia chover. Quero água. O calor só vai piorando cada vez mais. Aí começa a bater um vento ainda quente, mas com cheiro diferente. É chuva vindo, mas não há sinal de nuvens. E agora já vejo bem longe o que pode ser uma torre de celular em meio à uma mancha verde que talvez sejam eucaliptos. A ferrovia vai pra lá. Só pode ser o lugarejo que procuro. Uma outra estrada de terra aparece e vai paralela aos trilhos. Bom sinal. Vou caminhando por ela, por ser mais confortável de pisar. O vento fica cada vez mais frio e nuvens muito baixas já começam a encobrir o sol. Que alívio. Vai chover. E não demora, vejo a chuva chegando. É bonito ver a massa branca vindo na plantação, mas agora já queria que desse tempo de chegar no vilarejo antes de ser pego pela chuva. Não vai dar. A cortina d'água vem com tudo, molha tudo com um pouco de violência. A água chega, passeia pelo meu corpo e pelo meu pensamento. Continuo andando. E por mais contraditório que pareça, me bate um pouco de medo, porque a chuva está ficando cada vez mais forte.



Já estou mais perto dos eucaliptos e vejo que embaixo deles há um caminhão pipa, pingando água. Apesar da chuva, continuo com muita sede. Nesta hora pouco me importa se os eucaliptos podem ser perigosos na chuva. Pouco me importa se o que pinga do caminhão é água mesmo ou agrotóxico. Estou com muita sede, nem penso no veneno. Quando me abaixo para pegar a água que verte do tanque, a porta do caminhão se abre e de lá vem uma bronca. Apesar da chuva torrencial, o homem grita para que eu não beba, é veneno. Aí vou até ele para explicar que estava com muita sede, e para saber que veneno era aquele. Lá de cima da cabine ele me oferece uma garrafa daquelas térmicas de 5 litros. Mas como eu estou com a mochila nas costas há muitas horas, com suas alças reduzindo a circulação de sangue nos braços, com muito cansaço acumulado, ao pegar a garrafa, ela por muito pouco não se espatifou no chão. Ela pesou demais, meus braços não obedecem direito. Não conseguia erguê-la para beber. Para mim era engraçado. Mas o rapaz do caminhão não achou graça, desceu na chuva e começou a me fazer um monte de perguntas, nitidamente preocupado com minha situação física. De onde eu vinha, o que fazia, se estava sozinho, se já tinha almoçado. Eu vou respondendo as perguntas e bebendo água. A chuva vai parando. Eu vou matando a sede. Pergunto se o tal lugarejo que eu procuro estava perto e ele me disse que estava a poucos quilômetros a frente. E também disse que iria me dar uma carona até lá, já que não adiantava mais pulverizar a plantação enquanto estivesse molhada. Agradeço pela água. Entro no caminhão, mesmo estando com as roupas ensopadas porque ele disse que não havia problema.



Vamos conversando e na estrada, uma grande jibóia atravessando. Antes de eu tentar interceder por ela, num segundo ele já vem com um discurso de que cobra é tudo ruim, que ele sempre mata mesmo. E no próximo segundo, desvia o caminhão e passa em cima dela, propositalmente. Eu olho pra trás e a vejo se retorcendo. Que situação ruim. Nem tenho como falar nada, nem deixo transparecer qualquer sentimento meu, nem a favor e nem contra a atitude. A verdade é que ver a cobra sendo atropelada foi pior do que todo sofrimento que passei hoje. Penso um pouco sobre o quanto é notável a relatividade da culpa nas mais diversas situações. Tão relativa que em qualquer caso pode ser total e ao mesmo tempo inexistente. Mas tudo bem, deixa pra lá, aconteceu tudo muito rápido e é melhor manter a mente em boa vibração.



Chegamos ao vilarejo. Eu já tinha ido lá outras vezes, porém por outros caminhos e nunca a pé. Pra mim continuava igual. Agradeço a carona, me ajudou demais, já me sinto mais animado a continuar. Porém, ele diz que está indo até uma venda e lá paramos. Descemos do caminhão. Ele vai falar com a mulher da venda. Escuto dizer pra ela anotar tudo o que eu consumisse, que eu ainda nem tinha almoçado e já vai saindo da venda, se despede e fala pra eu almoçar tranqüilo. Agradeço demais, mas aviso que não posso aceitar, por vários motivos: falo que tenho dinheiro suficiente pra comer, que isso era na verdade um passeio, que vim pelos trilhos de propósito, que eu estava era conhecendo o caminho, que sou acostumado a fazer isso. Mas ele parece não ter acreditado, entrou no caminhão e foi embora.



Comida servida, vou comendo bem devagar. E vou pensando nessa história do pagamento e estou decidido a acertar a conta com a dona. Percebo que ela fica curiosa, com vontade de conversar comigo, mas outros clientes a toda hora pedem alguma coisa. Vou mastigando e pensando que devia ser bem difícil pra alguém entender que eu fazia essas caminhadas de propósito. Que não era por nenhuma "precisão" ir de uma cidade até a outra, que não era promessa, que ia só pra passear. E ia a pé por gosto mesmo. E que faz parte do desafio levar só poucos reais. E pensei na atitude do rapaz do caminhão. Ele se sentiu feliz em poder ajudar. E como o almoço com refrigerante ficaria em menos de R$4,00, achei melhor deixar a mulher anotar, como parte do ritual.



A chuva passou tão rápido quanto chegou e agora tenho que continuar meu caminho. Pegar a estrada é sempre muito prazeroso. Tem algo de renovação, de nova chance, página em branco. Já devia ser por volta das 16hs, o sol já brilhava forte de novo, porém bem mais amigável. Era o sol que eu gostava. A minha cidade ainda estava muito longe. E já admito que não conseguiria voltar pra casa ainda hoje. Vou caminhando e deixando a cidadezinha pra trás, deixando as coisas acontecerem como deveria ser. Mas do jeito que meus pés estão uma carona seria muito bom. O problema é o baixo movimento daquela estrada de terra. Uma saída seria caminhar até chegar numa rodovia asfaltada a cerca de 20 quilômetros a frente. Vou tirando umas fotos da chuva pesada indo embora lá longe no horizonte.



Neste momento passa um ônibus! Peço carona, sem muita esperança. O ônibus passa e vai embora. Mas uns cem metros lá na frente ele pára. Será que é pra me dar carona ou pra descer algum passageiro? Quanto será a passagem? Corro até lá e já vou organizando uma história na cabeça para pedir isenção ou abatimento na passagem. A possibilidade de não ter que caminhar tanto e economizar os pés vale a pena. Fico muito feliz, consegui a carona! Entro e agradeço ao motorista. Mas só quando entro é que vejo que aquele não era um ônibus de linha. A minha realidade não é a mesma de um montão de gente. É reveillón. É um ônibus de bóias-frias. E enquanto eu estava me divertindo, por opção minha, tinha muita gente se matando em alguma lavoura, por obrigação, desde o primeiro dia do ano. Todos me olhando. Sorrio e enquanto vou indo pro fundo do ônibus, passo cumprimentando alguns com a cabeça, que me respondem com o mesmo gesto, porém de forma bem mais pesada. Estavam mais sujos do que eu. Acordaram muito mais cedo do que eu. E pareciam estar com o pensamento muito longe daquele ônibus. O único som era o monótono motor do ônibus. Me sento do lado de um e logo puxo papo, acho que como defesa ao desconforto do silêncio. Descubro que quase todos eles são maranhenses e uns poucos pernambucanos. Eles se matam de trabalhar por três meses na safra na região Sudeste, enquanto nas suas cidades não há oportunidade de trabalho. Por isso trabalham no natal, ano novo, sábado, domingo, enquanto dão conta, enquanto há safra. Depois retornam. Trabalho puxado que disseram que poucos daqui aceitam fazer. Talvez também por questões trabalhistas. E vi que entre eles havia algumas mulheres também, com cabelos escondidos nos bonés e formas diadorínicas ocultas sobre as sujas roupas masculinas.



Converso sem querer dar pistas de sentir pena deles. Não sinto. Quero é entender o cotidiano deles e não ouvir desabafos. A conversa vai ficando muito boa e à medida que eu conto do meu dia e ouço do dia deles aqui e lá no Maranhão, mais gente vai entrando na conversa, cada um sente vontade de contar mais coisas e ouvindo outras. As vozes vão ficando mais altas, empolgadas. Agora há risos. O ônibus agora entra na rodovia asfaltada. Mas vira pro lado oposto ao que eu deveria ir. Só então percebo que esqueci de perguntar pra onde eles estavam indo. Agora é tarde, deixa pra lá. Continuo a viagem com eles. O papo está muito animado. De repente vejo um trevo de entroncamento com outra rodovia e tenho uma idéia. Rapidamente vou até o motorista e peço pra ele parar quando puder. Pego a mochila correndo e enquanto desço percebo que agora é um ônibus bem diferente, bem mais vivo do que aquele que eu entrei. Talvez ele já fosse assim, eu é que não tinha percebido. Agradeço a carona e me despeço. Sozinho de novo na estrada. É interessante como os cenários e situações mudam rapidamente. Tive a idéia de descer neste trevo porque se eu conseguisse outra carona, poderia chegar na cidade dos pais de um amigo, onde eu pediria pouso para me recuperar dos machucados nos pés. Já deve ser por volta de 17hs e quando escurecer não haverá chance de carona. E acampar perto de rodovia não é uma boa escolha. Vou caminhando até o outro lado do trevo já me preparando pra eternidade que será esperar até a próxima carona, ainda mais numa data daquelas. Para o caroneiro em rodovias asfaltadas, o tempo de luz é o limitante e não a distância. Não vale a pena caminhar nestes cenários porque, além de tudo, o tempo que se gasta pedindo carona compensa exponencialmente o deslocado a pé. Enquanto isso, passa uma carreta, peço carona e ela pára. Que bom! Corro. Falo pra onde eu estava indo e se poderia me dar uma carona. O motorista diz que sim, que seria bom porque há um trecho meio confuso que ele precisa passar e eu aviso que posso ajudar. Na cabine estão pai e filho. O pai, o motorista. O filho, uma criança de uns 6 anos. Eram da região Sul e nunca tinham vindo pros lados de cá.



Fico constrangido, tentando não encostar as costas suadas no banco do caminhão novinho, ao mesmo tempo que fico pensando que eu, no lugar dele, jamais daria carona pra um sujismundo como eu. Mas também penso que ele deva ter os seus motivos para ter feito o contrário. Falo que se não fossem eles, é provável que eu teria de passar a noite ali. Ajudo ele com os mapas, dou sugestões de trajetos, falo das cidades pelas quais passariam, conservação das estradas. A conversa flui e mais uma vez, antes que eu perceba, já chegamos ao lugar aonde eu tenho que descer. Agradeço, me despeço e desejo uma boa viagem a eles. Me surpreendo! Não é que antes do pôr-do-sol eu já estava dentro da cidade dos pais do meu amigo? Não poderia imaginar que eu conseguiria. Estava muito cansado, mas muito feliz. Agora tinha que saber se meu amigo estava por lá, afinal era reveillón e as pessoas costumam fugir de casa. De qualquer forma, já me sinto vitorioso.



Toco a campainha. O portão se abre e encontro uma casa lotada, a maioria daquelas pessoas eu nem conhecia. Mas, na minha sujeira nem deu tempo de sentir vergonha porque fui muito bem acolhido, me trataram como se eu fosse alguém nobre. Tomo um ótimo banho já sentindo o cheiro gostoso de janta sendo preparada. Na água do banho vejo indo embora a poeira de um montão de lugar. E junto, o cansaço, as dores dos pés, as preocupações. Enquanto janto, tenho que contar minhas histórias para uma numerosa platéia interessada. Dou coloridos engraçados pras situações que me foram difíceis. Mas muitas das passagens eu percebo que são ridículas só mesmo no momento em que as narro. Colho muitas gargalhadas. Mais tarde vou dormir e acho graça da imprevisibilidade das situações e como segundos a mais ou a menos podem mudar tudo. Como eu gosto disso. E foi dessa forma que comecei 2009. Aprendo em um dia várias lições que me serão preciosas a vida inteira. Dias assim sempre me valeram muito mais do que anos de faculdade.