domingo, 7 de março de 2010

Sobre a diaporese...



Quando se tem a sensação de ter perdido algo, mas não se sabe o que é, é comum que se volte no caminho procurando;




Quando se perde algo, e não se sabe o que é que se perdeu, qualquer coisa encontrada serve.
E qualquer coisa jamais vai servir.




Então, agora quando tenho a sensação que perdi alguma coisa, mas não sei o que é, eu simplesmente ignoro: se eu não sei o que é que eu perdi, é porque não me faz falta.




E me lembro que já levei tanto peso, buscando me precaver para o que eu pudesse encontrar mais à frente. E mais a frente descobri que a maior das precauções é não levar nada.


Sobre a pecilogonia...



Muitas vezes fico pensando na diferença entre educação, ensino e adestramento. E, na mesma hora já me vêm à mente as milhares de restrições que enxergo no ensino universitário. Mas os problemas que vejo já começam bem antes da universidade, ainda nos seus tijolos.
Entendo que a escola deveria ensinar que as verdades que cada pessoa já traz consigo são as mesmas verdades do mundo, só faltando algum ajuste de linguagem entre a criança e o mundo que ela enxerga.

Mas parece que isso dá muito trabalho. No mundo imediatista e impessoal de hoje (e sempre) é bem mais fácil o processo cirúrgico: a escola aplica uma aguda verdade científica para anestesiar, e ano após ano vai amputando as verdades da criança, passar uma matemática para desinfectar, dar uns pontos e pronto. Já podemos passar para a próxima turma.



Agora o ser assim concebido será capaz de acreditar cegamente desde que seja bibliográfico, discutir ferozmente desde que seja científico e confiar fervorosamente, desde que seja matemático.



Aí, a verdade da criança será bem diversa da verdade do mundo. Algumas ficarão um pouco perdidas uns tempos, mas boa parte entrará na faculdade já moldada conforme Procusto. As que ainda não estiverem no ponto ideal, de acordo com a prova de qualidade, aí é só voltar a peça ao início do processo.



E as que não se adaptaram à olaria? O problema nem é estar ou não incluso no processo, afinal tijolos quebrados também têm a sua serventia. Mas será que a abelha é melhor do que a minhoca? Quem estudou mais deve ganhar mais, azar de quem não estudou. E pelo que tenho visto, quanto mais "alto" o nível de escolaridade, mais impessoal parecem as relações. Na faculdade, por exemplo, cansei de ver gente fazendo greve por causa de salários. As desculpas para a greve eram várias, mas no fundo, a luta era só por salário mesmo. Particularmente, na minha visão mais-que-imperfeita sempre achei que quem deveria ganhar os melhores salários eram as professoras do pré-escolar e do primário. Tijolos. Andando por aí temos encontrado tanta gente frustrada sem motivo aparente, tanta gente cansada com tudo como está. Parece que os tijolos quebrados só se acumulam, acumulam.



Quanto mais as críticas às universidades aumentam, melhor. Nem tenho ilusões de um mundo sem a olaria, mas já é um indício de que ao menos ela precisa de uma reforma pesada urgente. Enquanto isso, o desperdício humano é incontável. O tal processo é velado e por isso, mais ameaçador do que o desperdício das guerras. Enquanto a olaria não pára pra manutenção, essas palavras são só lamento de perdedor. Mas um perdedor que sabe que um dia a maromba vai parar.



E hoje a olaria precisa andar rápido. Ela tem uma meta numérica a ser atingida. Os melhores formados (da fôrma) sairão rapidamente para o mercado de trabalho, prestarão concursos onde se atesta quão de acordo com o molde eles estão. Os primeiros da lista serão selecionados, sempre de maneira tão eficaz quanto escolher os primeiros resultados retornados pela pesquisa do Google. Vários deles acreditam estar além dessa baboseira toda. Vários acreditam que têm vontade própria, que podem fazer escolhas. Serão nossos melhores médicos, juízes, engenheiros e outras profissões tradicionais, tão bem valorizadas por nossas novelas.