segunda-feira, 13 de julho de 2009

Sobre a Estação Stevenson Velha...


Quem passa pela BR-050 entre Araguari e Uberlândia vê as curiosas ruínas de um prédio desconhecido. Já sem janelas ou portas, o prédio abandonado fica no topo da serra do Fundão, entre o vale do Rio Araguari e a cidade de Araguari.



É o que restou da antiga estação Stevenson. É a única estação dos primeiros tempos da Mogiana (CMEF) que sobrou no município de Araguari, a última cidade a ser atingida pela Companhia, ainda em fins do século XIX. Outras estações da Mogiana em nosso município foram pouco a pouco demolidas. A própria estação “Araguari”, que ficava na praça da Constituição, foi demolida em fins da década de 1970. Da estação de Angá, no meio do cerrado, resta apenas a plataforma.



Os restos de outra, a estação do Preá, foram submersos em 2006 com a absurda construção da usina particular de Capim Branco 2. Junto com a estação também foram submersos os pilares de pedra da primeira ponte de ferro que unia Araguari e Uberlândia.
Além da estação Stevenson ser a mais velha ainda existente no município, é a estação da Mogiana mais ao norte do Brasil inteiro, de uma ferrovia que tinha pretensões de atingir Belém do Pará.



Araguari foi sede de uma outra empresa ferroviária, a Estrada de Ferro Goyaz, que faz 100 anos neste ano de 2009. Mas a EFG não teria saído do projeto se não existisse a Mogiana aqui. O próprio Triângulo Mineiro não passaria de uma região esquecida no meio do Brasil, se não fosse o papel das ferrovias por aqui. Elas provocaram intensas melhorias às nossas cidades, como energia elétrica, companhias telefônicas e agências bancárias, muito antes do que a maior parte do Brasil.
Hoje quem passa pela BR-050 e vê o que ainda sobra desse simples prédio nem faz idéia de sua importância. Talvez nem mesmo se dê conta do quanto nossa cultura é ingrata com aquilo que já conquistamos.



A estação Stevenson está em vias de desabamento. O prédio está sofrendo recalque e dentro em pouco não sobrará nada além da plataforma. As trincas e rachaduras estão por toda parte. Algumas paredes já estão bastante inclinadas, provocando o desencaixe de algumas peças de madeira do telhado.



Na administração municipal passada, o então prefeito Marcos Alvim prometeu mundos e fundos. Anunciou a restauração do prédio, disse que o dinheiro já tinha até saído. Disseram que havia um projeto de um passeio ferroviário entre Araguari e Uberlândia, já em vias de implantação. Passou o primeiro mandato, passou o segundo mandato e ficou só a conversa.



Oficialmente gastaram R$120.000,00 na recuperação da locomotiva Rio Negro nº1 do Batalhão Mauá, que permanece há anos parada. Seu segundo mandato foi bastante nocivo e deixou um vácuo até hoje não rompido. A atual administração, do prefeito Marcos Coelho, pouco fala sobre a estação e sobre o passeio. As intenções verdadeiras (ou a falta delas) ficam nítidas. Pecar pela falta de atitude é muito pior do que pelo excesso de aspirações.



A estação de Sobradinho, em Uberlândia, ruiu em 2008 por simples falta de escoramento emergencial, estratégia que poderia ser usada até que se conseguissem os recursos para uma recuperação efetiva.
Fica o exemplo pra Araguari: enquanto não se conseguir que o dinheiro que já saiu e voltou tantas vezes seja de fato aplicado na recuperação do prédio, poderíamos ao menos fazer um escoramento de emergência. Já seria uma atitude básica de preocupação com um Patrimônio importante para a cidade e para a compreensão do ciclo das ferrovias no Triângulo Mineiro. Mas por enquanto, o que transparece é a mentalidade que torce para que a louça suja se quebre, com preguiça de ter que lavá-la.



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*Atualização de informações - 28/08/2013 - Aniversário de 125 anos de Araguari.
Hoje pude visitar parcialmente o interior do prédio, que finalmente foi recuperado. Forneço aqui a atualização das informações (Clique nas fotos para ampliar):





Em fins de abril de 2012, no último ano da gestão do prefeito Marcos Coelho, foram iniciadas as obras de recuperação do prédio, com a limpeza parcial do terreno.











A empresa que ganhou a licitação das obras foi a Engepac Engenharia. A promessa foi a de se respeitar o projeto de recuperação elaborado pela arquiteta Carolina Vaz, que propõe a instalação de um restaurante e um centro de informações turísticas no prédio.







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Em fins de maio de 2012, o telhado havia sido retirado, o madeiramento havia sido recuperado, o ripamento estava sendo refeito e o alicerce dos banheiros estava adiantado.








Em princípio de junho de 2012 já começaram a levantar as paredes dos banheiros. Esse novo volume foi pensado de forma a causar o menor impacto nas fachadas. Não havia espaço suficiente para fazer banheiros no prédio principal. Banheiro subterrâneo seria inviável. Então esse novo volume foi feito descolado do prédio principal, porém deveria ficar em uma distância confortável para ser usado. Algumas pessoas (que só conhecem o prédio visto da BR-050) acreditam que os banheiros deveriam ficar "atrás" do prédio, entretanto a fachada mencionada como a "detrás" é justamente a fachada principal, que é a plataforma de embarque. Além do mais, ali era onde ficava o pátio ferroviário. A linha ferroviária foi instalada há muitas décadas antes de haver a BR-050 ali. Por estes motivos acredito que a solução adotada para os banheiros foi a melhor possível.









Em julho de 2012 o telhado (e isolamento) já estava sendo instalado.















Em agosto de 2012 os telhados estavam terminados. As telhas cerâmicas do tipo francesa, originais, foram lavadas e reinstaladas, sendo substituídas as peças danificadas. Nos banheiros, a cobertura também foi feita com telhas francesas.





Em setembro de 2012 começaram a assentar pedras portuguesas na plataforma de embarque e a refazer os pisos internos.














No final de setembro e princípio de outubro de 2012 começaram a fazer a pintura. Os banheiros já estavam em fase de acabamento fino. O maquinário/equipamentos para uso do restaurante industrial estava sendo instalado.







Em princípio de novembro começaram a fazer o pergolado entre os banheiros e o prédio principal da estação.






Em dezembro terminaram a instalação das telhas metálicas da plataforma de embarque, o gradil de proteção da plataforma, bem como as novas mãos-francesas, também metálicas. As originais foram perdidas há muitos anos, então as atuais foram feitas de forma a não causar o chamado "falso-histórico: qualquer pessoa entende que são estruturas novas. O mesmo aconteceu com as portas e janelas perdidas.



 Em 28 de dezembro de 2012 o prédio foi inaugurado, em fins da gestão do prefeito Marcos Coelho. Neste período foi instalado um trecho ferroviário de poucos metros, para lembrar o local onde os trilhos ficavam.






Há quem diga que as obras foram inauguradas nesta data referida e até hoje não tenho informações de quando o prédio foi entregue pela construtora à prefeitura.
Entretanto, para que o restaurante funcione será ainda necessário que uma licitação seja feita para a escolha da empresa que irá gerir o negócio.









No dia 28 de agosto de 2013, aniversário de Araguari, o prédio da estação, ainda sem uso, foi usado para o lançamento do projeto "Rota 28", que parece ser uma rota turística tendo como base o trecho de 28 quilômetros da BR-050 entre Uberlândia e Araguari. As principais autoridades de ambas cidades estavam presentes. Até a presente data não há notícias sobre quando deverá ser feita a licitação para uso do prédio.