quarta-feira, 4 de maio de 2011

Sobre a panóplia...


Já vai amanhecer. Deixamos nosso abrigo depressa. Subimos, subimos e subimos mais ainda. Depressa. A luz já começa a tomar conta de tudo, muito rápido. Ao redor, só avistamos florestas e neblina. Ofegantes, sentamos para apreciar o nascer do sol e, hipnotizados com o impacto daquela cena, nem percebemos que a função de raciocínio foi desligada. Quanta gente usa drogas, sua dose diária de soma, em busca de sensações assim. Jamais vão encontrar. Passam a vida inteira comprando falsidade, porque as sensações a que me refiro não são sensações de processo interno.



Conforme os dedos da luz inundavam o mundo, um perfume chegou e nos trouxe ensinamentos, mensagens que pareciam velhas e eternas. O clima é de respeito. Lições da suave autoridade da vida. O perfume, cheiro de madeira, terra e água. Notícias de uma vida que está lá antes de Cabral e de Jesus. Antes de qualquer índio, onça ou ipê. Só por isso já valeu a viagem.


É um coração que pulsa de fora, é uma vida que não vem de dentro. Aliás, quando o raciocínio foi desligado, o perfume mostrou que vida nenhuma pode vir de dentro. E que o aprendizado puro não se utiliza das palavras como transporte. Palavras são armadilhas humanas que se enchem de vazio. Derivam de idéias completas de vazio, por nascerem de uma existência interna. E se é interno, é morto, porque agora aprendi que a vida vem é de fora. É bom estar em contato com essas intensidades primordiais.



E a existência humana, cujo objetivo é fechar, reduzir, significar, pasteurizar, permanece com sua natureza digestiva. E, por isso, mergulhada e calcada somente em dentes e vazios.
E quando o Homem se dá conta disso, tenta lutar, se libertar, mas é impossível. O Homem é fechado em si, por definição própria. Nas suas tentativas, agora são os vazios é que se encherão de palavras e ganhará um diploma por isso. Quando alguém escreve, pensa ou fala de alguma coisa, não devia, porque não faz idéia do que propõe.



E agora o sol já rompeu o horizonte, o dia já começa a esquentar. Daqui enxergo minhas ilusões, num belo panorama. Respiro fundo, mas temos que descer, mergulhar na floresta e retomar o nosso caminho, que será muito longo. Prevemos que, se caminharmos bem, é possível que nas primeiras horas da noite estaremos ingressando no território dos neons, a terra onde a existência só é competição.

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