terça-feira, 4 de maio de 2010

Sobre as alvíssaras...


Proteção é aprisionamento.
Está relacionada, de um lado ao egoísmo do protetor e de outro, ao conforto do aprisionado.
Palavras protegem as idéias. Casas protegem pessoas. Os Estados protegem os seus povos. A Igreja nos protege do Mal. O dinheiro e o saber são a segurança das elites. Os ossos protegem as vísceras. O medo protege a gente de nós mesmos. As mulheres procuram proteção no casamento. Filhotes de passarinhos se escondem debaixo das asas da mãe. Os pedestres, no guarda-chuva. Tímidos, internautas, costureiras, assaltantes, doentes, pecadores, esportistas. Todo mundo abocanhando a sua proteção. E o mundo é um universo morto.

Pelo menos até que alguém escape da proteção. O broto, num ímpeto suicida, rompe a casca da semente.
Bom é poder correr, cair e ralar no chão. É perder a tampa do dedão na pelada de domingo. Bom é fugir da proteção. Bom é ignorar a consciência, que serve para nos proteger do amanhã. Os problemas de amanhã a gente resolve amanhã. Os que procuram proteção na saúde dizem que viver é saber envelhecer, mas viver não é saber e nem é envelhecer. É a arte de conquistar a liberdade. É sob as asas dela que nos protegemos da ferrugem.


Trilha sonora do vídeo: Fragmentos de "Casa da Lua Cheia", de Cláudio Nucci.






2 comentários:

  1. "O broto num ímpeto suicida, rompe a casca da semente." Passagem perfeita, metáfora marcante. Um sensível convite para mudança de paradigmas. Valeu Glaucio!

    ResponderExcluir
  2. Belo post e o fragmento da musica na sombra da bicicleta ficou incrivel..Parabens!

    ResponderExcluir