Escapo por uma pequena fresta e me reencontro com a vida.
Numa fração de tempo do meu tamanho, não tenho direito de perder a oportunidade. É questão de vida. Higiene mental.
Saio sem fazer barulho. O dia começa a nascer.
Encontro com amigos desconhecidos. Eles também parecem fazer o mesmo, cada um escapando das suas senzalas antes que seus feitores dêem falta. A humanidade dorme, acho que para esquecer que ela existe.
Subo a pé do litoral até as montanhas, passando em meio à floresta por caminhos tortuosos e desconhecidos. O vento canta nos ouvidos e dificulta a caminhada.
A chuva chega e torna o frio ainda mais forte. As roupas se encharcam e as gotas vão roubando o calor do corpo. A luz vai embora e paramos para conviver com os medos dos barulhos de uma noite chuvosa.
Atravessamos o dia, mas depois dele é a noite quem passa. A velocidade é a dela.
A escuridão bloqueia o sentido da visão e por isso ficamos mais introspectivos. Mais auditivos, mais cuidadosos.
O não-domínio do espaço nos força à fragilidade. Às vezes dá impressão que o dia nunca mais vai nascer.
Nos primeiros momentos o escuro nos sufoca. Mas não demora, fazemos amizade com ele, reunidos ao redor das panelas.
Em meio às ruínas do que um dia foi o pino principal do Brasil econômico, a vida selvagem cresce.
Pequenos animais aparecem, curiosos com os barulhos ou com os cheiros. Torcemos para que não atraiam os grandes. O território é deles.
Na bonita dança dos climas, pudemos presenciar um dia bonito nascendo. É hora de colocar as coisas para secar.
É nessa hora que vem o indescritível sentimento de se considerar um dos poucos humanos que têm contato com as coisas mais puras e simples do mundo.
É boa a sensação de encontrar situações para as quais não existem palavras. É isso que eu procuro. E tenho encontrado.
Que segredo existe na noite? Alguém percebe quais milagres há no sol?
Será que alguém, depois de adulto, já viu a beleza que tem no céu? Viu? Sentiu a luta entre o vermelho denso e nervoso que trazemos dentro de nós e o azul poderoso e leve que há no céu?
Respirou uma paisagem, tentando fazer o interior dos pulmões enxergar a amplidão exterior?
Penso que não. Se os homens tivessem olhos, jamais fariam casas. Elas são uma ofensa ao mundo. O vermelho que enxergam é o do semáforo. Estátuas ocupadas com seus rendimentos. Estátuas não sentem frio, só planejam sua permanência, sem propósito.
Bate a certeza de que nenhuma carreira profissional substitui esses momentos. Satisfação é saber que valeu a pena.
Veja a primeira travessia da Funicular: http://efgoyaz.blogspot.com/2009/08/sobre-barbarie.html
Mais fotos: http://picasaweb.google.com/efgoyaz/SerraDoMar#
Muito tocante e bonito teu texto.
ResponderExcluirEu já acho indiscritível a sensação de "chegar com os próprios pés", caminhando de um lugar ao outro em meio a natureza ou áreas rurais. Fico imaginando que deve ser uma experiência ainda mais intensa esse tipo de 'caminhadas' que você faz.
A afasia é du k....
ResponderExcluirsensacional seu texto
Abraços hermano
Grande Gláucio !
ResponderExcluirTFg despertando poesia, Arquitetar é escrever com tijolos.
Sempre te admirei.
Tenho certeza que vai dar certo. Força na butina !
Entrega logo esse trem e parte para a próxima viagem !
"Tamu" junto!
Se cuida !
Olá Glauco,
ResponderExcluirEstamos fundando uma ONG para preservação das quedas d'água do Triângulo, OP QUATI e gostaria que você conhecesse nossos projetos e participação da nossa ONG. Poderei te enviar o estatuto via e-mail. Gde abraço.
Visite meu blog que tem algumas informações: novaotica.blogspot.com
É pro fantástico?
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