A humanidade inteira cabe num carro de boi, que desde que o mundo é mundo, lá-envai estrada afora.
Vai abrigada dentro de uma capotinha de lona. Ela segue num sacolejar gostoso, que raras vezes assusta, mas não ameaça de fato.
Mas existem os Nobres. Os Políticos. Os Estudados. Os Eclesiásticos. Eles, com a permissão do rei (que também vai dentro da capotinha), pintaram uma bela paisagem por dentro da lona. Quando enjoam, pintam de outras cores. E isso basta.
Vez ou outra um desequilibrado quer descer da carroça, sabe que pode andar por conta própria. O idiota nem percebe que isso não é permitido: como ele poderia descer sem abrir um buraco por onde passe a chuva? Silenciem-no e basta. Cada vez menos gente pensa em descer.
Não se sabe quem puxa a carroça. Não se sabe quem a guia, nem pra onde vai.
Nada disso importa, todos só querem ficar bem quentinhos e acomodados. E isso lhes basta.
Uma vez disseram que a humanidade caminha. Já falaram até que ela canta. Ninguém ainda sabe que quem canta mesmo é o carro de boi. Se tivessem olhos, enxergariam que não têm pés, nem ouvidos, nem voz. Só coração (um tipo egocêntrico de estômago). É a âncora que merecem e lhes basta por toda a estrada.
Êita garoto! Sempre surpreendendo! Um texto afiado, sincero e verdadeiro, cujos gumes e perfumes, com certeza; rompem qualquer lona... pra quem tem olhos, ouvidos e coração.
ResponderExcluirPS: A foto do crânio bovino ficou doida demais! Muito legal!
muito bom gostei parabens
ResponderExcluire olha que arrancar um parabens de min e complicado
Olá,
ResponderExcluirmuito interessante seu texto, gostei muito de como você o abre - "A humanidade inteira cabe num carro de boi"- e a simplicidade dos elementos na sua descrição.
(: