quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Sobre o epânodo...



O tempo nos corrói.
Rapidamente. Lentamente. Cada dia a menos. A cada dia mais.
Vai removendo todos os relevos da nossa alma.
E em pouco tempo toda existência desaparece. Toda marca, todo traço.
Escapamos da ação do tempo somente enquanto vivemos.
Só que viver não é existir. É realçar esses relevos.
Permanentemente. Mesmo sabendo quem ganha no final.
Do mesmo modo como faz o coração, bombeando sangue e brigando com a gravidade.
Lutando com a estagnação todos os dias, mesmo já sabendo quem ganha no final.




Rolaremos assim, todos os dias, a pedra de Sísifo, enquanto vivermos.
E no final não vai haver diferença ter lutado um dia ou 30 mil dias. O vencedor é sempre o tempo.
Ele destrói até mesmo o significado da palavra final.






Hoje de manhã vi uns passarinhos.
tomando banho na enxurrada da chuva que caía na rua,
visivelmente mais felizes do que pessoas.
Que passavam com cara carrancuda pela chuva,
que ignoravam a cena dos pássaros na chuva.
Que achavam feio o dia de chuva.
Que praguejavam a água que caía do céu.




Os pássaros brincavam e nem viam a cidade. Estavam em outra dimensão.
Eles não carregam o peso inútil da racionalidade. Por isso voam e são felizes.

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