terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sobre o paroxismo...


De longe avisto a igrejinha branca, desconhecida.
No alto do morro, assentada sobre o pasto seco, amarelo e quebradiço do mês de julho.
O vento do inverno espalha a poeira vermelha de tempos em tempos.
Sol forte, ar seco. Vida que peleja.



Acima, a preponderância sublime do céu azul que só existe no cerrado.
Penso que essa força mágica que vem dele arrebata qualquer um que o vê.
Penso que isso explica boa parte da religiosidade das pessoas das regiões centrais do Brasil.
Vou caminhando até tocar a pequenina e desolada capela de telhas de barro.



O vento brinca com as duas folhas de madeira da porta. Dentro, não há mais nada, nem bancos, nem vestígios, nem nada. No altar, improvisado numa mesa de concreto, não há nenhum santo. Desconheço o orago.
Mas dentro encontro uma sombra abençoada. O vento sobre as telhas faz um som que se escuta com o coração. Uma atmosfera que acalma.



Dizem que os seres humanos são os únicos animais que sabem que vão morrer. Não sei se são mesmo, mas desconfio que são os únicos que passam a vida procurando motivos pra viver.
E assim, qualquer átomo que entra na capela faz uma prece, sem saber. Sem palavras, sem pedidos, sem intenções, sem religiões, imagens, fé ou precedentes. A prece mais pura acontece silenciosamente. Involuntariamente. Ela escapa sem se dar conta.
E a mais simples capelinha que existe, abandonada e esquecida, é o lugar mais elevado de todo o universo.

6 comentários:

  1. É incrivel como que vc faz a gente flutuar nas suas imagens e escrita. Rezemos cada qual a sua maneira. Que assim seja!!

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  2. Eu não sei o que transcende mais, se a imagem sobre o poeta, ou o poema sobre a arte!!

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  3. ai glaciooo...

    incrivel mesmo como vc nos leva em suas viagens...

    o dia começou bem hoje! obrigada pelo texto e pelas imagens (sempre sempre belas)

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  4. Igreja no morro...

    Quanta lembrança boa tenho dela!Solitária, abençoando os motoristas que seguem de Tupaciguara para Araguari. Próxima à cachoeira do Rio Bonito, construída para seduzir... brindar a fé e a visão! Como vc muito bem disse, talvez o vazio do espaço nos enche de uma fé que só podemos encontrar em nós mesmos! No silêncio!

    Belas fotos!

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  5. é bom de se ver, que ainda existem pessoas que tenham tempo para observar o que há de belo em nossa volta.Bonitas fotos e lindíssimas palavras

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  6. Imagens lindas. show de bola amiguinha parabéns.

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