É uma estrada. Já foi de ferro, hoje é de nada.
É um caminho abandonado, sem serventia humana, sem acesso,
sem ligação.
Foi entalhada no vale de um rio que também hoje, tal qual a
estrada, já não corre.
Suas bonitas paisagens, mesmo mutiladas nos últimos anos,
ainda estão lá. A estrada corta florestas fechadas, que já foram bem exuberantes,
mas ainda impressionam. Devido ao isolamento é fácil avistar bichos andando por
ela. Catetos, iraras e bandos de guaxinins saem das moitas. Cascavéis se
escondem embaixo das folhas de bambu, enquanto grande quantidade de pássaros
passeia e canta pelas copas das árvores.
A luz amarela e suave da tarde penetra lateralmente pelas
frestas das árvores, colorindo o chão de folhas e pedras.
Estava caminhando por ela nesta tarde. Andando sem pressa,
respirando, ouvindo, vendo, pensando e fotografando. Bastante distraído.
Já era final do dia, prestes a pegar o caminho de volta quando ergo o olhar e me deparo com
um senhor, logo à minha frente.
Um senhor de barbas brancas, camisa de botão, um tanto
surrada, mas bonita. Um aspecto meio cigano. Devia ter mais de 80 anos, montado
em um cavalo. Apesar da idade, não tinha nada de decrépito. Chapéu preto tão velho
quanto ele. Na garupa dele, uma menininha de no máximo uns quatro anos,
descalça, cabelos pretos e longos, desgrenhados. Agarrada firmemente ao senhor,
com rostinho colado nas suas costas.
Por algum motivo que não sei explicar, ele era o puro retrato
da sabedoria. Ela, o puro retrato da inocência. Apareceram ali, não sei de
onde.
Foram se aproximando, pensei que levaria uma bronca por
estar em área particular. Respeitosamente o cumprimentei, ele retribuiu e parou
para conversar. Sua voz, cansada pelos anos, era grave e firme.
Era um senhor simples, como tantos senhores que encontro e
converso todos os dias.
Não sei se existe esse negócio de alma, mas se existir a
minha soube na hora que eu estava diante de uma autoridade. Me falou poucas
coisas, a maioria delas amenidades. Mas pra mim, essas amenidades me soaram
como grandes lições, palavras de valor. Conversamos por breves minutos. Nos despedimos. Eles sumiram
na floresta, da mesma forma como apareceram. Eu continuei meu caminho, mas
muito impressionado, honrado e feliz. Ser bobo tem dessas vantagens: qualquer
coisa impressiona. Pra mim é como se aqueles dois sempre foram parte desse lugar
mágico. Esse encontro me fez ganhar bem mais que o dia.
Muito bacanas as fotos e o texto.
ResponderExcluirParabéns.
Que linda imagem... gratidão!
ResponderExcluir