quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sobre o cardinal...


A humanidade inteira cabe num carro de boi, que desde que o mundo é mundo, lá-envai estrada afora.
Vai abrigada dentro de uma capotinha de lona. Ela segue num sacolejar gostoso, que raras vezes assusta, mas não ameaça de fato.
Não há janelas. Dizem que é porque elas permitem a entrada do desconforto, da chuva e do vento. Há tempos dão jeito em quem quiser abrir alguma. E isso basta.




Mas existem os Nobres. Os Políticos. Os Estudados. Os Eclesiásticos. Eles, com a permissão do rei (que também vai dentro da capotinha), pintaram uma bela paisagem por dentro da lona. Quando enjoam, pintam de outras cores. E isso basta.
Vez ou outra um desequilibrado quer descer da carroça, sabe que pode andar por conta própria. O idiota nem percebe que isso não é permitido: como ele poderia descer sem abrir um buraco por onde passe a chuva? Silenciem-no e basta. Cada vez menos gente pensa em descer.




Não se sabe quem puxa a carroça. Não se sabe quem a guia, nem pra onde vai.
Nada disso importa, todos só querem ficar bem quentinhos e acomodados. E isso lhes basta.
Uma vez disseram que a humanidade caminha. Já falaram até que ela canta. Ninguém ainda sabe que quem canta mesmo é o carro de boi. Se tivessem olhos, enxergariam que não têm pés, nem ouvidos, nem voz. Só coração (um tipo egocêntrico de estômago). É a âncora que merecem e lhes basta por toda a estrada.